FIM DE FILME



Bankok – adoro a sonoridade dessa palavra – ela parece um misto quente sonorizando chuva e sombrinhas usadas e puídas por ter encostado nas paredes das ruas mal arrumadas dessa cidade que sequer passei. Onde fica bankok? De lá a gente conhece somente a paisagem pastel do cinema americano. Mas me lembra prostitutas e máfia. Me lembra chuva e clima de passagem.

No cinema depois que já passou muito tempo, se olha para tela e vem uma sensação vazia de uma imagem sem nada por dentro, o significado da morte permanente e a casca da vida por fora aparecendo uma viva lembrança de movimentos e vibrações nervosas de que algo existiu enquanto cenário e encenação de atores que agora estão no túmulo ou velhos bizarros falando sós em suas casas-museu.

Pinheiros negros nos lugares em que nada existia naquela rua vazia em que o céu abrigava um sol e que fazia sombra nas coisas hirtas, cacos do mundo, telhados com falhas e outras existências, camaleões sobre o limbo das palmeiras.

Ninguém ali para contar história alguma. As vozes do outro lado sendo gravadas depois que a cena passou. O animal empalhado em cima da janela gigante sobre uma pintura desgastada onde um emblema de vende-se esta se desfigurou. Cansou-se de existir, o êxodo do ouro sobrevivente, a permuta da localização.

Camufla-se o posto de gasolina, os carros enferrujados, o vento cortando o cerrado com seu grito de impunes sons que desafiam a velocidade das estradas.

Os homens em seus bonés, os cartazes do período, foto de um comercial no tempo em que o posto engolia enxurradas de dinheiro em troca de cervejas de boa marca e cigarros, a gasolina que ainda era pura e algumas pessoas pediam carona.

Tempo que ainda se acreditava em discos voadores, e se reuniam milhares de garotos propagandas de ets, com suas revistinhas de bolso, alguns jeeps paravam para olhar o céu, mas no máximo avistavam estrelas, ainda fazia um pouco de frio acolhedor então o homem fazia uma fogueira para se juntarem às histórias de terror.

Homens, mulheres, crianças, velhos... sumindo assim a poeira levantada borrifa um bafo no lugar onde a porta poderia estar aberta. A porta fechada que alimenta o resto do corpo da construção, mas o resto da construção é o vazio, as reticências de um roteiro rasurado de palavras e símbolos fetiche do sagrado passado.

Pendurada placa balança como um balanço num playground de um edifício de uma cidade qualquer longe dali, depois que as crianças enjoam do brinquedo e saem para suas escolas, depois que a sirene toca mostrando a hora da entrada, depois que se despede da paisagem de um gigante longa metragem filmado numa década em que se ainda acreditava em mocinhos e bandidos se fizessem de tonalidades diferenciadas.

Mais tarde, lá enquanto novos bichos pastam, como o dragão a pastar, a sede da terra é maior, mas não vem a chuva molhar esse chão, depois no futuro o chão é granito puro, invenção de quem não gosta de sentir o gosto da terra em seus pés e se afasta da natureza de onde veio embalado com sua origem. Mais tarde a terra ferve. E as bandeiras que acenavam o porte dos lugares amanhecem e anoitecem como a mesma cena que se repete e se desgasta no tempo que passa e que passa e que passa sobre os calendários que não existem ali. Aquelas cores preferem sumir e misturam-se tanto ao negro da terra, ao azul do céu quando o sol recomeça no verão tudo de novo, tudo de novo se renovando e se manchando de cores novamente novos sobretudos.

O novelo das espécies, a fauna renovada, a flora feita de ervas verdes oliva, as flores pequeninas nascidas às margens de um lago que um dia foi azul porque se encostava-se ao espelho do sol, selvagens flores que nascem nas beiras das estradas que não dão a lugar nenhum, senão continuísmo da própria paisagem em movimento das telas de um cinema.

Década de café e extremos, o cinema foi vendido porque não dava mais lucros filmes de arte, assim como a arte inútil em se ficar insistindo em existir, o cinema não mais se encaixou com a tecnologia digital exigida, novo formato de cenários que não são mais vivos, a metamorfose do gráfico da computação, o cenário de groselhas silvestres virtual, mudança de paradigma.

O cinema clichê piegas virou estamparia indefinida em um bazar pirata de um caminho marginal, tomando chuva e sol até o caos poético por suas infindáveis vastidões desertas do planeta crescer sem controle de suas cidades fantasmas.

Ri-se alto, reverbera a noite as pedras são lançadas, amontoam-se ao verbo lixo. Enxurrada de uivos, os cães sobem no asfalto para percorrer o inexistente, exaustos jogam-se no abismo para onde não mais se vê. A penumbra cobre a queda livre. Os ossos batem nas pedras.

Música de the end. Finita história de dois mundos. A morte e a vida. A vida e a morte. Um dia nem se sabe porque se cruzaram numa fronteira fatal.

As cores cinzentas dão lugares abertos às novas flores: Temporada de verão. o inverno está morto.

13 de junho de 2009







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