DENÚNCIA

Eu denuncio o prazer de ter tido o desprazer de não ter sido
o demolir do novelo
antes do primeiro vôo
como um silencioso corpo
como um misterioso animal preso aos corais
eu te denuncio
renuncio ao uso indevido dos sonhos
da música ter entrado assim como um líquido complemento de placenta
do não - nascer
como um aborto do mundo indesejado
eu denuncio todas as palavras escritas que fincaste na lua
à luz das estrelas mortas
ao sonho do infinito universo
eu não preciso de gritos preso
como células com sangue
por isso solto o verbo parido
a surpresa vindo da garganta ferida
feto que se aprisiona no nicho sobrenatural
eu te denuncio como um falso diamante
um fogo fátuo
uma armadilha para humanos
te denuncio como superfície da pele
raso perfil de sonho maquiavélico
que pouco revelo à carne do mundo
no que se desfez - raiz
o que se refaz em mim agora
esse par de asas de ferro
projeto ousado para o mundo feito de pedras
no mundo dos que não ousam amar.

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