todas as manhãs em que acordo recordo cenas místicas misturadas em minha cabeça. por lá giram sombras, desenhos e coloridas imagens que tiro da ilusão. sim. iludo-me. um bom viver necessita do sonho. porque viver não basta. nosso dia a dia se agiganta em formar sílabas pretas e cores opacas na paisagem. é só olhar quando se caminha. o pouco a pouco se formando. as casas tortas. o lixo defumando o horizonte. os ratos caminhando pelo leito do pequeno rio poluído. somos uma índia. somos uma china. compramos seus trambolhos e multiplicamos nossos pertences camuflados em felicidade.

não importa. é simples. é só seguir o caminho por onde os insetos se mimetizam. sigo uma trilha colorida. ora o arco íris me alcança com seu reflexo de cores fakes. as flores selvagens daquele parque que gosto tanto. as borboletas azuis contrastes significativos ao verde oliva das mil árvores finas sem pontos de luz de sol. me retorço para encontrar os raios que caem finos sobre a umidade das folhas amarronzadas. o sol que me aquece. o abraço. que abraço quente cheio de ondas sonoras. seguidas pelo canto da cigarra. seguir aonde for preciso. irei atrás desse muro que nos separa. é só seguir. o puro sentimento de tranquilidade. o odor daquelas horas passadas. as pegadas das águas que caem no leito do rio.

não quero começar o dia apenas bocejando. dizendo para mim o quanto a vida é insegura. ou que o espelho amasse meu olhar. quero seguir pura. alienada? quero seguir. desencontrar de ossos feridos. quero ver as cores. os homens bons. o sorriso de alguém que apanha a serotonina no ar. as pedaladas. as caminhadas. as jornadas cruas. quero vida. a seiva que ainda temos em mãos.

fico triste ao lembrar que quebrarão o silêncio desse templo aberto. dessa pequena floresta dentro de uma cidade que cresce. apenas cresce mas não se desenvolve. esse torpor desmedido pelo poder e pela beleza falsa. com o desbravar de uma estrada por dentro do parque. uma ponte de ferro? e o cair aos pedaços dos pneus pelos espaços abertos. pelos vãos das grades da ponte. caindo como uma goteira. que infinita loucura estão o permitindo fazer? quem teve essa ideia?

a ponte sobre o parque trará resíduos de homens que mastigam suas guloseimas. garrafas plásticas lançadas pelas janelas. mais. o barulho inconsequente de motores com seus mal fluídos de trânsito de terceiro mundo.

parque bolonha. gosto tanto. e quanto ainda preciso me iludir e aumentar a dimensão de minhas miragens? por certo nada disso verei. ou terei guardado em meu coração. quero passar por ali e não olhar para baixo. olhar para lugar algum que se descaracterize sua natureza. para aquela água abençoada que nos abastece. sendo engolida pela propaganda política de uma bela paisagem como pano de fundo de uma prefeitura que com essa atitude passa a se tornar irresponsável com nossa saúde.

toda água deve ser preservada como algo sagrado.



  
      

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