ontem - quase onze da manhã eu atravessava a praça perto de uma estátua apagada - um colégio centenário - e uma esquina onde passam milhares de transeuntes por dia - afiam-se facas - plastificam-se documentos - fotografias 3 x 4 na hora.

ouvi uma senhora - setenta anos - choramingando - por andar - com dores nos olhos doentes - olhar de quem sente doer até o andar - uma sombrinha aberta pela filha tentando consolá-la - sem resultados - a idosa chorava - parei na esquina para atravessar o sinal e retornei - não me contive - a dor de viver era mais próxima - eu sabia o que se passava - a miséria material - a casa que ela julgava estar caindo na cabeça - a filha única que a ajudava a subir a rua - o pano que ela enxugava os olhos doentes - perguntei o que estava acontecendo - será que meu olhar ajudaria? - Meus óculos de grau me afastavam do problema - então uma outra mulher se aproximou e ela a abraçou tomando conta da carência - de onde viria esse descumprimento do afeto - a mulher necessitava - de afeto - segurança - que eu não poderia - ou poderia? afinal meus compromissos do dia estavam sendo combrados a preço de ouro - deixei-a com a mulher transeunte que a indagava se a idosa já havia ido a Igreja universal. E com a filha impotente aos apelos misteriosos da mãe.

segui em frente por não conseguir ajudá-la - a humanidade cresce sem afeto - desprotegida das noite mais úmidas da terra - escrevo este texto - pelo meio do caminho - aos pedaços - e peço - cuidem de seus irmãos - com ternura - cuidem das hortas - cuidem do silêncio - cuidem de seus filhos.

mais tarde um anjo varrerá as noites - limpará as estrelas - assim mais um dia o sol nascerá - e nada vai impedir - por isso cuidem-se - cuidem-se!

tarde de terça feira, 09 de agosto de 2011

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