AO POETA BOCA DE FERRO LUIS CARLOS FRANÇA

Ontem à tarde fui fazer uma prova de francês na universidade e coicidentemente ou não, quando dobrei a pequena esquina do prédio deparei-me com Harley, um de meus amigos poetas os quais dividíamos nosso trio de saraus de "Bar em Bar". Enquanto tomávamos um café, combinávamos nosso próximo sarau na Ilha do Mosqueiro, no Hotel Farol, foi então que subitamente me deu uma alegre vontade de ir nesse instante à casa do Luis, nosso outro companheiro das letras. Uma breve vontade enão interrompida pelo cotidiano cheio de outras ambições, compromissos que nos fazem dividir a memória em obrigações. Rimos e nos despedimos, eu e Harley.
À noite meu telefone toca e Vasco anuncia então a morte de nosso amigo. Caiu à tarde na calçada quase em frente ao Bar do Parque, lá ficou por mais de duas horas aguardando quem o levasse para um local apropriado, morto, na rua alguns amigos seus das artes sem querer passaram e se reencontraram no mesmo ponto exato, ir e vir de coincidências, a vida e a morte.
Então se iniciou uma corrente, os amigos, os parentes, os poetas, os atores, as bailarinas, a canção do teatro.
há uns quinze dias atrás, num domingo, Luis me ligou para que fosse a sua casa para conversarmos, brindarmos à vida. Estava ele então com um amigo, e fui, e ele falou de sua mãe pela primeira vez com os olhos infiltrados de água de lágrimas e disse que ela havia morrido de amor. Que seu pai a abandonara com os filhos porque havia se apaixonado por outra moça, e que era um homem da noite, dos bares, do mundo. Luis então se compadeceu a amar a mãe, cuidar de seus carinhos, cuidar de sua sorte. E um dia ela se foi e Luis adolescente, se viu só no mundo. Virou poeta. Virou artista. Virou símbolo de um Boca de ferro, em que grita suas dores, seus prazeres, suas emoções, sua simplicidade, seu amor pela terra, pelas cores do miriti, pelos ventos nas calçadas da cidade velha.
Ainda o sinto, ao ler seus poemas escuto sua voz, enérgica e doce, um poeta da simplicidade, um poeta que ficará pelas ruas de Belém mostrando seu olhar de dragão e seu coração sangrado.
Eu e Harley Dolzane fomos nos despedir dele durante a madrugada no Teatro Waldemar Henrique, seu corpo foi recebido por palmas, palmas pelo seu trabalho, ofício de escrever coisas puras num mundo tão duro. Todos os amigos se uniram e deram as mãos e fizeram uma oração. Luis Carlos não estava só, nunca esteve, era um poeta e sua boca de ferro.
Onde estiver amigo, fique tranquilo.
Um grande abraço de seus amigos
Josette e Harley.
Belém, 01 de julho de 2010.

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